PORQUE É TÃO IMPORTANTE TER UM REPERTÓRIO AMPLO ALÉM DOS ASSUNTOS DE DESIGN

No cenário criativo sempre estamos buscando algo inovador, impressionante, um insight sequer.
Mas como alcançar essa inovação, essa criatividade tão esperada?

Uma coisa que sempre me incomodou foi a ideia de que “se você trabalha com tecnologia, então tem que ler, escutar, ter uma overdose, vivenciar somente coisas sobre tecnologia”.
Já trabalhei em agência em que poderíamos solicitar apoio e investimento para nos qualificarmos em eventos, cursos e workshops que nos interessassem. Na teoria o apoio era muito animador, mas já presenciei situações em que o investimento foi negado com a prerrogativa de que a proposta do evento não era relacionada diretamente à área em que trabalhávamos na empresa.
Eu sempre fui contra essa prerrogativa, mas até então não sabia de que maneira iria abordar o assunto com a equipe. Com a experiência, me instruí a respeito da necessidade real de se adquirir conhecimentos em outras áreas para desenvolver nosso cenário criativo.
Na época, um único questionamento me rondava a respeito disso: como poderíamos nos inspirar de maneira mais ampla?
Além de designer, sou uma pessoa que tem um enorme apreço em fazer artesanato, fazer um DIY pra casa, adoro ver filmes que nada tem a ver com minha área de atuação. Amo nadar, tentar origami, provar cerveja artesanal, ler livros de poesia, comer tortas doces, assistir reality shows sobre gastronomia.

A capacidade criativa de um profissional não é produto apenas das situações com relação direta e estrita com sua área de atuação, e sim da sua maneira de interagir com o mundo de possibilidades à sua volta.

Assim, percebi que todas essas coisas que “nada tinham a ver” me tornavam a cada dia mais inspirada e criativa.

Até que em determinada ocasião, lendo uma pagebook do Murilo Gun, que clareou e norteou o que até então era apenas uma percepção que minha cabeça não conseguia nomear. Murilo é uma figura a qual admiro muito, desde sua maneira de se comunicar até sua maneira de fazer a publicidade acontecer. Nessa pagebook, ele falava sobre a importância de se ter um repertório diversificado de vários assuntos – quanto mais diversificado fosse seu repertório de conhecimento, maior seria a sua aptidão em de combinar coisas. Esse era o segredo dele para ser mais criativo. Ele relatava sua experiência na melhora da capacidade de se inspirar, citando situações como: “Sempre quando eu viajo de avião, eu leio a revista Capricho. Sabe por que? Porque é uma coisa que geralmente não me interessa, então eu entro em um universo diferente de novos inputs. O avião virou para mim um ambiente de caçar novos inputs, de ler revistas e conteúdos diferentes, para ampliar o meu repertório. Um dia talvez, o que eu li na revista capricho vai se combinar com algo da minha área e eu terei um novo insight.”. Assim, me identifiquei com o pensamento de um influenciador e a vida seguiu.

Até que um dia peguei um job para desenvolver alguns convites criativos para uma cliente. Geralmente eu não faço a intermediação com a gráfica, mas dessa vez foi diferente. Eu cuidei de toda a produção para a cliente e busquei os convites prontos na gráfica. Como muitos designers, perfeccionistas que somos, eu achei que o convite poderia ser 1cm menor em cada borda. Então eu os trouxe para casa, coloquei uma playlist inspiradora e comecei a fazer o trabalho de corte nos convites com o estilete e fiquei pensando em uma maneira de otimizar essa produção, já que eram muitas unidades. Eu não tenho muita experiência com impressos, já que 90% dos meus trabalhos são voltados para o web design. Então, pensar em algo para acelerar essa produção era algo novo para mim.
Foi aí que lembrei do programa Masterchef que assisto de vez em quando e que não tem “nada a ver com a minha área”. Lembrei dos puxões de orelha que a jurada Paola Carosella sempre dava nos participantes sobre montar uma Linha de Produção: “Primeiro coloquem o arroz em todos os pratos, depois venham com a carne em todos os pratos e depois venham com o molho.” A partir daí, montei minha linha de produção também: primeiro marquei a área de corte de todos os convites, depois eu vim com o estilete cortando todos e só depois embalei todos.

Então, a partir de uma experiência aparentemente irrelevante, tudo fez sentido em minha cabeça: eu comprovei para mim mesma minha ideia sobre a importância de se ter um repertório diferenciado que o Murilo falou, à qual eu não sabia ainda dar forma.
Se eu não tivesse “gastando” meu tempo assistindo a um programa que nada tinha a ver com design, eu iria procurar meios de como otimizar a produção no design gráfico em sites de design, em blogs de gráfica, em revistas de design e talvez eu estaria pestanejando em cortar convites – e em buscar inspirações “dentro da caixa” – até agora.

O que ficou foi um aprendizado para a vida profissional e pessoal: o da iminente necessidade de se ter uma visão sistêmica* sobre todas as atividades que realizamos.

*A visão sistêmica está baseada no conceito de que o todo, resultante da junção das partes, é muito maior do que simplesmente a soma destas. É um conceito que tem ganhado força desde a interpretação das relações humanas até mesmo a conceitos de inovação relacionados à área de marketing.

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